Atrás do Crime - conquistando os leitores do Brasil

Atrás do Crime - book trailer

terça-feira, 29 de novembro de 2016

CaNiBaIS - PaIXãO e MoRTe Na RuA Do aRVoReDo

Um dos crimes mais hediondos da História!


Estava dando uma olhada no meu acervo, a fim de escolher um livro sobre o qual escrever em meu blog, quando vi Canibais – paixão e morte na Rua do Arvoredo, de David Coimbra (Porto Alegre: L&PM, 2006) e pensei: bem, não é policial, enquadra-se no gênero histórico, mas traz uma trama digna de ser lembrada pelos brasileiros, principalmente porque foi inspirada em fatos reais! A ficção partiu de um dos crimes considerados mais hediondos do planeta: a história do açougueiro José Ramos e de Catarina Palse, que atraíam suas vítimas a fim de assassiná-las, fazendo de sua carne a linguiça mais deliciosa da província de São Pedro (Nossa!).


A realidade macabra

Os crimes da Rua do Arvoredo ocorreram entre 1863 e 1864, na cidade de Porto Alegre, a antiga província de São Pedro.
José Ramos, ex-soldado da Polícia, após assassinar Carlos Klaussner e se apropriar de sua casa na antiga Rua do Arvoredo (atual Rua Fernando Machado); assumiu também a profissão da vítima: tornou-se um próspero açougueiro.
Passado algum tempo, Ramos conhece Catarina Palse, de beleza estonteante, e, ambos, estando aliados, fortalecem-se como peritos nos crimes, enriquecendo às custas dos bens e, não se sabe ao certo, da própria carne das vítimas.


Perfil dos criminosos

Ramos era uma ambiguidade em si mesmo: culto, frequentava os espetáculos do Theatro São Pedro, apreciando a música erudita e vestindo-se muito bem para os padrões da época. Por outro lado, a forma como assassinava grotescamente suas vítimas – com um machado que lhes partia o crânio, a degola muito utilizada nas revoluções gaúchas, o esquartejamento hábil e certeiro – revelava um sujeito frio e calculista, um verdadeiro sociopata, sem escrúpulo algum na sua busca por poder.

Catarina Palse, da Hungria, diferenciava-se das demais mulheres recatadas da província, o que, por si só, chamava a atenção dos homens e enraivecia as esposas. A húngara não hesitava em usar suas qualidades físicas para atrair as vítimas do sexo masculino até sua casa, sempre com a desculpa de que o marido, o açougueiro Ramos, estava viajando. Quando adentravam a casa sinistra, no entanto, percebiam tarde demais que se tratava de uma armadilha.


A linguiça de carne humana

Após assassinar e esquartejar as vítimas, o açougueiro Ramos tratava de descarná-las e temperá-las, preparando a linguiça mais famosa da região. Essa era uma forma eficaz e lucrativa de se livrar dos cadáveres. Os ossos ele jogava num poço desativado do pátio da casa.
Contudo, a ideia de transformar os habitantes da cidade em canibais inconscientes era chocante demais. Muita controvérsia surgiu a respeito deste detalhe, e nos autos do processo, algumas folhas passaram a desaparecer oportunamente. Por que desapareceram? Justo as folhas que davam conta da parte mais monstruosa do crime? Talvez porque o escândalo seria imenso – um trauma difícil de se superar ao confirmar o canibalismo nos clientes do açougueiro. Mas se o processo não confirma, boatos é que não faltaram à época; e até nos dias atuais, a tal rua do Arvoredo ainda causa arrepios e assombra muita gente.


A ficção de David Coimbra

O autor se baseia em personalidades históricas e personagens fictícias para compor seu enredo. José Ramos, Catarina Palse, o chefe de polícia Dario Callado, a Bronze, a baronesa do Gravataí, o príncipe de Ajudá, entre outros, existiram. Já os três amigos Antunes (o padeiro), Brasiliano (o anspeçada) e Walter (o sapateiro) foram criados pelo autor.
Diversos detalhes na ficção situam o leitor no tempo, ou seja, no século XIX: a rotina sombria da província oitocentista, atormentada à noite por assaltos de escravos foragidos, aflita durante o dia por rivalidades entre raças (portugueses contra alemães, alemães contra portugueses, e todos contra os negros), bem como detalhes específicos da cultura local, das crenças e dos costumes marcam o romance como histórico.
A descrição da cidade, por exemplo, é bastante verossímil à época da narrativa. O autor descreve até o sistema sanitário local, em que várias residências possuíam apenas um buraco aberto no solo, nos fundos da casa, onde os moradores faziam suas necessidades fisiológicas. Também descreve que outras “construíam patentes de madeira, os dejetos eram depositados em uma espécie de barril, que, depois de cheio, era esvaziado em algum terreno baldio ou mesmo na rua, enchendo o ar da cidade de miasmas insuportáveis, sobretudo no sufocante calor do verão” (p.95-6). Outros pagavam assinaturas pelos serviços dos cabungueiros: “Os cabungos eram barris de madeira que serviam de latrina. Uma vez por semana, um funcionário chamado cabungueiro, geralmente negro, iam às residências que possuíam assinatura, retirava o cabungo e trocava por outro, limpo e desinfetado com creolina. O cabungo cheio era fechado e carregado de carroça até um trem, que o levava até uma volta do Guaíba, onde teria seu conteúdo despejado” (p.96).
O leitor também consegue identificar o tempo do romance por meio das antigas crenças, hoje consideradas ingênuas após a evolução da ciência: “... de algumas contraíra doenças venéreas, como a terrível blenorragia. Isso apesar dos cuidados que tomava. Depois do sexo, procedia como o recomendado para expulsar do corpo a contaminação – urinava com três jatos fortes, às vezes quatro. Sentia-se limpo, então” (p.134).
A questão racial não poderia ficar de fora. Não num período tão cheio de desavenças e preconceito, tempo em que se dava o povoamento do sul, tempo em que os brasileiros se sentiam ameaçados pelos imigrantes, os quais prosperavam devido à experiência adquirida na Europa, enquanto os da terra amargavam pobreza e miséria. Os negros, em época de escravidão, obviamente também sofriam e se diferenciavam dos demais, pois sequer eram considerados seres humanos: “Ramos não permitia que negros ou pardos andassem nas calçadas ao lado dos brancos. Exigia que os cadáveres dos cativos fossem logo retirados das ruas para serem sepultados, o que se tratava de uma medida higiênica – amiúde, quando um escravo morria, seu relapso proprietário se livrava do corpo simplesmente rojando-o em algum terreno baldio perto de casa, como se fosse lixo” (p.148).
Mas não são apenas as descrições históricas que enriquecem a obra. Nela, um personagem, o sapateiro Walter, de princípio um homem comedido e fiel à dor de sua viuvez, vai acabar provocando grande reviravolta no percurso natural dos assassinatos, graças à súbita paixão despertada ao conhecer Catarina. Ele pode ser a redenção dela, a promessa de uma nova vida, mas, para isso, terá que sobreviver ao assombroso Ramos. Um personagem fictício que, para infelicidade de Catarina em carne e osso, não existiu. Dizem que a bela, após vários anos na prisão, acabou morrendo de frio e fome nas ruas da cidade. Uma vingança providenciada pela própria vida depois de tantos atos cruéis junto ao açougueiro. Na ficção, contudo, o mesmo não acontece e, respeitando os leitores que certamente desejarão ler o livro após esta matéria, não revelarei o destino da húngara.


A lenda urbana na ficção

É maravilhoso poder percorrer as ruas de uma Porto Alegre que não vivi, acompanhando os passos dos personagens do romance, como os de Brasiliano e seu simpático cão Januário. Subir as ladeiras, cruzar a rua da Praia, tudo isto num cenário de mais de um século atrás. Já havia pedido a um amigo, natural da capital gaúcha, que me levasse até lá, como se, de certa forma, meus olhos pudessem resgatar um passado que não pertence a mim. Não temporalmente. Apenas geograficamente. A violência dos crimes do açougueiro ficou eternizada na memória de todos nós. Virou lenda. Continua sendo contada de geração a geração. O medo foi substituído pela curiosidade, mas a reação diante de tamanha frieza continua sendo de um absurdo sem igual. A obra de David Coimbra ficcionalizou o que estava no imaginário coletivo e eternizou, por meio de palavras, o que, de qualquer maneira, jamais poderá ser esquecido por nenhum habitante de Porto Alegre, ou, melhor dizendo, do mundo todo.

Afinal, o que você sentiria ao saber que comeu uma saborosa linguiça... feita do cadáver de um vizinho seu?





sexta-feira, 25 de novembro de 2016

A EsPeRanÇa na CaCHoRRa


    E essa agora? O marido aparece em casa, tentando agradar, portando uma shih tzu no colo de apenas 45 dias? “É presente de Natal”, ele diz, derretido pela filhote, que chora fraquinho, baixinho, e só para de resmungar para tentar arrancar um filete ou dois de carne dos dedos que a seguram.

   Eu apenas sacudo a cabeça, temendo o quanto posso sofrer por causa daquilo. E, tentando remover a ideia do marido de ter uma cachorrinha, conto-lhe sobre meu triste passado, quando tinha apenas dez ou onze anos:

   - Você sabe que eu já tive cachorros antes. Um deles, o Toquinho, subiu a escadaria correndo e começou a arranhar a porta da cozinha para que minha irmã e eu a abríssemos. Ele estava desesperado, gania por algum motivo que não sabíamos. Quando abrimos a porta, o cachorro se escondeu debaixo da pia, respirando de boca aberta, arquejante. Aí, caiu a ficha: um vizinho havia envenenado o bicho. O pior de tudo é que o animalzinho pediu ajuda, e não pudemos fazer nada... O veneno foi corroendo-o, queimando-o por dentro. Sofreu muito antes de morrer e, por isso, não quero mais animal algum.

   O marido, atento à narração, volta a acariciar a pequena shih tzu, mantendo o silêncio. Então, após refletir por alguns segundos, conclui:

   - Ah, entendi. A sua decepção, na verdade, não foi com o bichinho-cachorro, foi com o bicho-homem... tão cruel a ponto de envenenar seu animal. Você e essa mania de confundir as coisas...

   Na verdade, não. Eu só não queria sofrer daquele jeito... de novo. Mas, enfim, enquanto eu remoo umas sombras do passado, a shih tzu, agora no chão, vem para mim, louca pela possibilidade de morder os dedos do meu pé. Rio, sentindo cócegas... E me esforço para mudar minha cabeça, minha visão realista e sofrida de mundo. Enquanto a pequena destrói minhas chinelas Havaianas, provocando risos na família toda, digo em voz alta:

   - Já é hora de esquecer o passado e a crueldade do mundo. Estamos em dezembro, mês de se esperar por algo melhor da vida. 



 








terça-feira, 22 de novembro de 2016

A arte de saber esperar - microconto

   Diz-se que havia um menino que era interpelado por um adolescente de apenas treze anos, que sempre “pedia” seu dinheiro a caminho da escola. À época, acabava entregando-lhe as moedas do lanche, temendo alguma agressão, e os consecutivos atos do pedinte só vinham a deixar-lhe ainda mais fraco, tanto de ânimo quanto de corpo, visto ficar sem o que comer nos intervalos escolares.

   Os anos passaram, o menino cresceu, se tornou adulto, conseguiu emprego. E continuou tendo que dividir parte de seu salário com o “pedinte”, agora também de barba na cara, mas sem escrúpulo tampouco vergonha alguma. 

   Certo dia, contudo, ocorreu-lhe uma ideia e perguntou ao vagabundo:

   - Você sempre a pedir esmolas! E se eu não lhe entregar o dinheiro?

   - Aí, irmão, vou ter que te assaltá.
   
   - Vai me assaltar?

   - Pode ter certeza, mano!

   Aí, o homem pegou a carteira em mãos, abriu-a de forma que o “pedinte” visse as quatro notas de cem reais dentro, e, para espanto do bárbaro, voltou a guardar a carteira sem entregar nenhum tostão.

   - Eu te avisei, f.d.p., se não me der.... – E arrancando uma faca, disse, ameaçador: - Isso é um assalto, desgraçado. Passa toda grana aí.

   O ameaçado, ainda tranquilo apesar da situação, esboçou um leve sorriso no canto da boca. Então, inesperadamente, chutou a faca, imobilizou o bandido contra uma árvore e colocou com habilidade umas algemas que trazia consigo, devido à profissão que adquirira sem o outro saber.

   - Você está preso, amigo. Só estava esperando você deixar de ser um “pedinte” para assumir o papel de ladrão. Demorou...  mas esse é o meu dia de sorte!

   O bandido saiu arrastado, resistindo. E o menino, agora um policial, foi levando o preso, com a satisfação de ter o dever de vários anos finalmente cumprido.

   Moral: Trabalhe muito e aguarde. A oportunidade surgirá.

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Cristiane Krumenauer 

Autora de Atrás do Crime, Chamas da Noite, Contos da Namíbia e Memória, Imaginação e Narração.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

QUEM É você, LEITOR DE LIVROS POLICIAIS?



      Toda vez que um escritor se aventura em iniciar um livro policial, deveria se questionar: para quem vou escrever? Quem é o meu público? Bem, questões complicadas essas, afinal, como padronizar os leitores, considerando-os todos iguais e colocando-os num mesmo patamar, como se a individualidade de cada um não existisse? Sim, entendo que ser humano nenhum no mundo seja igual ao outro, entretanto, ao analisar o perfil daqueles malucos que gostam de literatura policial, podemos encontrar algumas características em comum.

     Vou listar dez dessas características. A maioria dos leitores vai se enquadrar em, no máximo, seis delas. Acima disso, bem, aí já não considero o elemento um fã do gênero, mas um fanático, um maníaco perigoso à solta, que ou é do ramo investigativo ou pretende ler livros policiais para se especializar no crime (que coisa feia!).

Vamos às características:

1) Gosta de mistério

O mistério é condição sine qua non para um fã da literatura policial. Ele se sente instigado a descobrir, junto ao detetive (ou antes dele), a grande verdade reveladora de muitas perguntas. O leitor desse gênero tem o hábito de se antecipar ao enredo, tentando prever as próximas ações das personagens.

2) Gosta e desgosta de ser mais inteligente que o escritor

Nessa tentativa de antever o que vai acontecer, de tentar se antecipar à leitura, o leitor sente prazer quando constata que estava certo. Contraditoriamente, isso não significa que ele irá gostar da obra, pois a mesma acabou se tornando previsível, o que é lamentável para quem curte desafios.

3) Tem raciocínio lógico e desconfia de tudo

O leitor presta atenção em todas as pistas deixadas na estória e faz várias constatações. Ele é muito desconfiado e se o detetive disser “o criminoso é o fulano”, então, isso já é suficiente para que o leitor inocente o suspeito. Normalmente, um livro policial tem sua leitura concluída com várias anotações, rabiscos e dobra de página. É porque o leitor registra as evidências que levam ao criminoso ou capta nas palavras do narrador algo suspeito, e utiliza tudo para tirar suas próprias conclusões.

4) Não curte sentimentalismo

Se o(a) detetive é casado ou não, se namora ou se envolve amorosamente, isso pouco atrai o leitor do gênero. Claro que uma pitadinha de romance ajuda a construir um plano de fundo atraente e torna o enredo mais verossímil. Contudo, o leitor vai fazer uma leitura mais superficial nesses trechos, porque esse tema, para ele, faz parte de um segundo plano.


5) Torce muito por justiça, via legais ou não

O criminoso pode até sair impune quando, de alguma forma, acaba conquistando o leitor. É o caso do jovem Ripley, em O Talentoso Mr. Ripley, de Patrícia Highsmith; ou o Mestre da Logística das Drogas, de Atrás do Crime. No entanto, geralmente, o leitor quer ver o vilão pagar por seus erros. Não importa como, se na prisão ou por castigo imposto pela própria vida, o antagonista precisa pagar por seus crimes, e o leitor sente-se aliviado de toda tensão da leitura quando isso ocorre.


6) Gosta de sentir adrenalina

O leitor gosta de tensão. A parte em que a vítima está prestes a ser pega; ou a que o criminoso está prestes a ter sua identidade descoberta por alguém, certamente, é o auge. Veja exemplo de um trecho em que um jovem adolescente, infiltrado na organização criminosa para passar informações à Polícia Federal, está prestes a ser desmascarado por um membro do tráfico:

Um barulho de passos impediu-o de fotografar as demais folhas. Marcos J. K. apressou-se em guardar tudo novamente no armário. Os passos aproximavam-se cada vez mais. Não teria tempo de sair dali sem ser percebido. “O que faço? O que faço?” Alguém se aproximava. Estava perdido! Enrolava a folha transparente o mais rápido possível. Não tinha mais tempo. O som dos passos se tornou bem mais intenso até parar por completo. “Pronto, fui pego!”, pensou, trêmulo, enquanto tentava disfarçar diante da máquina de café expresso da sala de reuniões.
 (Atrás do Crime, p. 141)

7)  Inteligente, gosta de uma trama bem planejada do início ao fim

O leitor gosta de uma trama bem amarrada, sem pontas soltas. Delicia-se quando vê uma obra baseada numa pesquisa profunda, que traz detalhes enriquecedores e verídicos do que está no enredo. Além disso, quer que todos os personagens tenham motivo para terem sido colocadas na estória. Nada de supérfluo. Tudo está ali por uma razão e o leitor vai fazer questão de avaliar isso.

8) Gosta de saber passo a passo da investigação

Os procedimentos policiais ou das instituições precisam ser verídicos ou, ao menos, bem verossímeis para convencer o leitor. Não é à toa que muitos policiais de carreira vêm se aventurando no ramo de escritor do gênero. O problema é que o domínio das técnicas investigativas não resulta, necessariamente, em um livro com qualidade estética.

9) Adora encontrar gafes no enredo

O leitor experiente na leitura, cuja aptidão de desvendar o crime foi aos poucos se aperfeiçoando, será detalhista o suficiente a ponto de poder encontrar gafes no enredo, caso elas existam. Bom para o ego do leitor, péssimo para a conceituação que terá do escritor.

10) Gosta de sofrer até as últimas páginas

Como dito no item 1, o leitor adora um mistério. Então, caso descubra os segredos com muita antecipação, vai acabar perdendo interesse pelo livro. O leitor pode até descobrir segredos paralelos ao mistério principal antes do verdadeiro desfecho, mas a cereja do bolo deve ser apresentada só mesmo no final.

É isso aí... Você, leitor, possui quantas dessas características? Até 6? Mais do que isso??? Sem problema, nós, escritores, estamos aqui, prontos para encher a sua estante com obras eletrizantes do gênero policial. Quanto mais você ler, mais facilmente descobrirá o que está atrás do crime.

Fique bem, leia muito!















Cristiane Krumenauer